SAD: Uma resposta (com) sentido - Desafios do Serviço Social

Licenciada em Serviço Social pelo ISSSLX

Pós-Graduada em Gerontologia Social pela ULHT

Mestre em Gerontologia Social pela ULHT

Coordenadora do SAD da Santa Casa da Misericórdia da Amadora

alexandraandrade.sad@misericordia-amadora.pt

Quando falamos em Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), falamos inevitavelmente de envelhecimento, dependência, mas também de participação, direitos e cidadania. Falamos de pessoas, com uma história de vida, com expetativas, com vontades e emoções.
Não podemos limitar a nossa intervenção a seguir apenas as orientações regulamentadas. Temos que ter uma capacidade critica, reflexiva e criativa que nos permita agir no imediato, mas também, no planeamento e organização do trabalho e da intervenção, desenvolvendo projetos inovadores e desafiantes.
É neste contexto que se torna imperativo marcar pela diferença. A intervenção tem que ser encarada como uma estratégia que deve ser desenvolvida caso a caso e de uma forma personalizada, adequando-a às reais necessidades das pessoas.
“ Ao assistente social gerontológico requer-se que possua um saber, um saber-ser/estar e um saber-fazer sólido, teórico e prático, e, não menos importante, alguma criatividade que lhe permita agir em contextos instáveis, indeterminados e complexos, caracterizados por zonas de incerteza que de cada situação fazem uma novidade a exigir uma reflexão dialogante com a própria realidade que lhe fala. Por outro lado, é-lhe requerida capacidade de diálogo com os diferentes agentes envolvidos na prestação dos cuidados, e capacidade de encontrar soluções ajustadas a cada utente e sua família, através de uma efetiva capacidade relacional” (Ribeirinho, 2013:198).
A relação representa o centro de todo este processo: relação com o outro, relação de confiança, relação de proximidade, relação de pertença, relação de empatia, relação de ser pessoa, relação de ser profissional. É imperativo para quem trabalha nesta área e para qualquer Assistente Social, intervir de uma forma holística, sistémica e individualizada. O Serviço Social é capacitação, é olhar para a pessoa como um todo, é perceber as potencialidades e as fragilidades e usar esses instrumentos para promover a mudança. Neste contexto, torna-se fundamental procurar trabalhar e agir de acordo com alguns princípios/valores que podem de alguma forma diferenciar a nossa postura enquanto profissionais. Estamos a falar de conceitos ou valores como altruísmo, sensibilidade, persistência, dedicação, dignidade, honestidade, humildade, respeito, justiça e ética. Todo o ser humano tem direito ao respeito pela sua individualidade, pela confidencialidade, pela informação. Só assim se pode construir uma relação profissional, baseada na confiança e no compromisso.
O mais difícil, às vezes, é viver de uma forma positiva com a frustração e termos a consciência de que é humanamente impossível responder com eficácia a todas as solicitações. É aqui que surgem as dúvidas e os dilemas. Nem sempre temos a certeza que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance. Nem sempre conseguimos os resultados esperados, ou melhor, nem sempre conseguimos atuar de acordo com as nossas convicções. Temos que ser capazes de separar a razão do coração e desenvolver o nosso trabalho de acordo com as orientações quer profissionais, quer institucionais.
Devemos ter a noção que não vimos mudar o mundo, mas podemos ter alguma “pretensão” em querer marcar pela diferença, pela insistência e pela determinação.
Os nossos idosos são pessoas cada vez mais esclarecidas e exigentes, e os serviços têm que estar preparados para acompanhar a realidade. “Estão a surgir clientes com mais escolaridade, mais rendimento, mais informação, mais expetativas e mais exigências. Esta nova realidade desafia a política de cuidados e a intervenção neste tipo de resposta social a construírem novas abordagens de acordo com o paradigma do envelhecimento bem-sucedido” (Carvalho, 2012:366).
Assim, precisamos de profissionais que realmente se identifiquem e gostem de trabalhar com os idosos. O trabalho é muito exigente e desgastante, uma vez que cada situação, as necessidades, os contextos, as famílias, as personalidades, a aceitação de que se precisa de ajuda, é diferente e requer um tratamento personalizado e uma capacidade de adaptação elevada. Neste sentido, o SAD deve estar preparado para apoiar todas as situações de uma forma flexível e eficaz. Importa também referir o trabalho de equipa e fundamentalmente das Ajudantes Familiares Domiciliárias (AFD) que vão de casa em casa levando uma pouco de alegria e bem-estar, e que passam a fazer parte da realidade e da história de cada utente. Existe tanto trabalho e entrega, que não se consegue demostrar e que não se escreve, nem transparece na legislação ou nas normas. Também as AFD têm vontades, sentimentos, dúvidas, expectativas. Têm uma história e muita vontade de tornar melhor a vida dos utentes. Às vezes também é difícil gerir as frustrações em equipa, mas também é daí que vem a força e a vontade para avançar e tentar melhorar o mundo de cada pessoa. Coisas simples: escutar, sorrir, abraçar, estar.
Cabe-nos a missão de preparar o futuro e refletir sobre que idosos queremos ser. Uma vez que o enquadramento teórico e social sobre o envelhecimento é alvo cada vez mais, de estudo e reflexão, é emergente que os intervenientes nesta matéria criem condições de apoio e tratamento para todos os cidadãos de forma igual, humana e que vá ao encontro das necessidades das pessoas. Dar espaço para que possam continuar a ser sujeitos de direitos, que possam manifestar a sua vontade, dar a sua opinião e participar ativamente nas tomadas de decisão. É das suas vidas que se trata.
É fundamental que as Respostas Sociais sejam adaptáveis e flexíveis. Que deixem espaço para a relação e para o conhecimento entre pessoas. Que façam sentido e que fundamentalmente permitam a realização dos profissionais e de quem recorre a elas. Também nós queremos fazer parte da história destas pessoas e continuar a “mudar o mundo” de quem se vai cruzando no nosso caminho.

Bibliografia:

CARVALHO, Maria Irene (2012), Envelhecimento e Cuidados Domiciliários em Instituições de Solidariedade Social, Lisboa, Coisas de Ler.
CARVALHO, Maria Irene (2013), Serviço Social no Envelhecimento, Lisboa, Lidel.

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