Serviço Social e necessidades: limites ou oportunidade?

Opinião de Hugo Caixaria, Coordenador da Área Sénior e Assistente Social no Centro Social Paroquial do Campo  Grande.

Mestrando em “Serviço Social, variante Empreendedorismo e Inovação na Economia Social” na Universidade Católica Portuguesa.

Hugo Caixaria
Coordenador da Área Sénior e Assistente Social no Centro Social Paroquial do Campo Grande.

Quando se fala em Serviço Social, dificilmente não se aborda o conceito ou temática das necessidades, muito embora o uso empregue nem sempre corresponda ao que se pretende. Assiste-se a um uso múltiplo e recorrente do conceito que serve para explicar da mesma forma diferentes realidades, tendendo a uniformizar, a padronizar como necessidade fenómenos que, por definição, são diferentes.

O conceito de necessidade deverá estar inerentemente relacionado com a questão do desenvolvimento e não apenas com a satisfação dos mínimos necessários. Parece secundário, mas trata-se de uma opção decisiva. Reconhecer a necessidade como factor que contribui para alcançar um mínimo definido é totalmente diferente de encarar o conceito numa lógica de desenvolvimento.

O desenvolvimento refere-se directamente a pessoas e não a objectos. Parece óbvia esta afirmação, mas interessa sublinhar que o desenvolvimento não se limita ao carácter económico, mas exige um olhar mais amplo e abrangente que integre as várias dimensões da Pessoa Humana.  Sendo assim, o processo de desenvolvimento será aquele que permita promover a qualidade de vida das pessoas. O que determina então a Qualidade de Vida? Esta passa necessariamente pela possibilidade das pessoas satisfazerem as necessidades humanas fundamentais.  E que necessidades são essas? Neste particular há necessidade de clarificar entre necessidades e formas de as satisfazer. Existe a convicção de que estas são infinitas, variáveis de cultura para cultura e que são diferentes em cada período. No limite, cada pessoa teria a sua própria necessidade. Isto sucede nas formas de satisfação das necessidades. A forma de satisfazer as necessidades é variável de cultura para cultura e além disso apresenta uma evolução ao longo dos tempos. A forma de satisfazer a necessidade de subsistência (ou qualquer outra) no início do século tende a ser diferente da forma que actualmente é utilizada. Eventualmente no início do século a dimensão do “ter” era mais evidenciada do que a dimensão do “ser”. Actualmente esta dimensão adquire outra relevância.

Desta forma, interessa questionar de que forma o Serviço Social se posiciona nesta realidade. Se, em primeiro lugar, interpreta e assume que a resposta às necessidades não é uma mera compensação para alcançar os mínimos definidos, mas que concilia as capacidades de cada Pessoa e as oportunidade do próprio contexto de acção. Esta abordagem ultrapassa a ideia de passividade do “beneficiário” da acção. Pelo contrário, reconhece as suas capacidades, o seu percurso e, com a integração num determinado contexto de acção procura valorizar as suas oportunidades permitindo assim criar bases para um desenvolvimento integral da Pessoa Humana.

Admito que esta proposta, convide cada Assistente Social a desinstalar-se do que está estabelecido, mas considero que não basta reconhecer por princípio a individualidade da pessoa. Olhar e reflectir o conceito de necessidade ajuda-nos a entender a complexidade do que é trabalhar com pessoas. Mas, como refere esta abordagem, é no jogo entre as capacidades e oportunidades que se alcança a satisfação das necessidades promovendo o desenvolvimento da Pessoa Humana.

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