Sandra Patrícia Custódio Baptista Elvas
Licenciatura em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa;
Pós-graduada em Economia e Gestão de Instituições Sem Fins Lucrativos pelo Instituto Superior de Economia e Gestão;
Pós-graduada em Promoção da Saúde e Ação Social pela Escola Superior de Alcoitão;
Mestre em Serviço Social e Gestão de Unidades Sociais de Bem-Estar pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia;
Curso de Formação Especializado “Supervisão de Serviço Social” – ISCSP;
Doutoranda no Doutoramento de Serviço Social da Universidade Lusíada – ISSSL
Investigadora no CLISSIS – Universidade Lusíada de Lisboa
Assistente Social/Diretora de Residências Assistidas na SCML
spcbelvas@gmail.com
Residência Assistida Para Pessoas Idosas – Um modelo de gestão participado
A grande conquista societal de se viver mais anos é uma realidade, contudo viver mais anos não é sinonimo de viver com mais qualidade. A longevidade humana é uma realidade incontestável, contudo vive-se na ânsia de não envelhecer, pelo que compreender este processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível constitui um acontecimento necessário e da maior relevância (Sequeira, 2010).
“Nas sociedades contemporâneas industrializadas e demograficamente maduras, o envelhecimento da população tem vindo a representar um desafio difícil para o qual as soluções já implementadas se revelam frequentemente ineficientes e em muitos casos também inadequadas”. (Fernandes, 2019:15)
Portugal é atualmente o 5º país ao nível mundial com 19,15%, com um índice de envelhecimento de 153,20 pessoas idosas para cada 100 jovens. A esperança de vida à nascença é atualmente de 81,6 anos, sendo que após os 65 anos ainda se pode esperar viver mais 19,5 anos. Se considerarmos as projeções da população apresentadas para Portugal pelo INE (2017), “…a população com 65 ou mais anos de idade residente em Portugal poderá passar de 2,1 para 2,8 milhões de pessoas”.
O envelhecimento é um processo vital, biopsicossocial, compreende processos biológicos, e psicológicos, culturais e sociais. Para Elvas (2016), “o processo de envelhecimento de um individuo e resultado de uma conjugação de fatores de natureza genética, ambiental, nutricional, do estilo de vida e vicissitudinária”.
O envelhecimento é um processo que faz parte do ciclo de vida é multidimensional e encontra-se envolto numa nevoa de vulnerabilidade, estigma, apesar da consciencialização que se tem vindo a enunciar sobre o problema do idadismo. O idadismo reveste-se de inúmeros constrangimentos, levando mesmo a hipotecar a continuidade de uma vida ativa, conferindo ao fator idade incapacidade e desvalorização.
Diversas medidas ao longo dos anos tem vindo a ser implementadas, de modo a combater os problemas associados ao envelhecimento, como é exemplo, em 1976 da Declaração da Política de Terceira Idade, em 1982 da Segunda Assembleia Mundial sobre envelhecimento em Madrid onde se aprova o plano de ação e a declaração política – “Uma Sociedade para Todas as Idades”, em 1993 o Ano Europeu do Idoso e da Solidariedade entre Gerações, e salienta-se também em 2012 o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações.
Com a declaração de 1976 pretendia-se “uma alteração na forma de tratar os idosos. A alteração mais visível concretiza-se na transformação dos asilos em lares e na emergência de serviços e instituições para a terceira idade.” (Veloso, 2008:3)
Para Guimarães, (2019:10) “O envelhecimento em Portugal tem sido encarado de forma parcelar e descontínua, sem estar devidamente alicerçado num diagnóstico holístico e sem a congregação de perspetivas multidisciplinares”.
Sendo o Serviço Social a profissão da justiça social, dos direitos humanos, e da responsabilidade coletiva, procurando a mudança social, a coesão social, o empowerment e a promoção da pessoa, ao intervir na gerontologia o seu campo de atuação é a pessoa (individual e coletivamente) em interação com o meio, com a sua funcionalidade e no desenvolvimento das suas potencialidades numa perspetiva positiva. (Ribeirinho, 2013). O assistente social tem um papel fundamental, na integração da pessoa, na convivência e laços relacionais da instituição, potenciando e mantendo a ligação da família, das pessoas de referência e da comunidade.
Ao abordar as respostas sociais, falamos aqui da resposta de residências assistidas para pessoas idosas, ou pessoas em situação de vulnerabilidade, independentes e com autonomia para a gestão da sua vida. Esta resposta é desenvolvida em apartamentos individuais ou coletivos (casais ou familiares), sendo uma resposta que preconiza a liberdade, privacidade, participação, autonomia, a autodeterminação e boas relações de convivência, promovendo o bem-estar. Esta resposta tem vindo a ser desenvolvida em Portugal desde os anos 80, tendo estagnado no tempo, é nos anos 2000 que começam a surgir outras residências quer no terceiro setor quer no privado. Esta resposta ao nível do terceiro setor pretende responder a problemas habitacionais de maior vulnerabilidade, a questões relacionadas com o isolamento e a situações de vulnerabilidade social e económica.
Para Montoya (2009), esta resposta de residência assistida não se encontra submetida ao rigor mecanicista, permitindo ao residente solicitar quando e onde receber a assistência pretendida.
O modelo de gestão e intervenção participado, encontra-se assente nos pilares do envelhecimento ativo, onde os residentes têm um papel de relevância e de poder na tomada de decisão. É importante e necessário romper e encarar as formas mais convencionais como desajustadas, esta resposta requer um alinhamento com a participação e empoderamento dos residentes, sendo promotora de direitos e cidadania. O papel do assistente social, enquadra os princípios da intervenção com pessoas idosas (Ribeirinho, 2013):
- A pessoa idosa tem de ser valorizada como sujeito ativo na construção do seu quotidiano e do seu projeto de vida. Os seus hábitos, costumes, as crenças e a sua forma de estar, incluindo os valores socioculturais
- A avaliação realizada define com a pessoa a intervenção a realizar, com base numa maior qualidade e bem-estar, tendo sempre como pano de fundo a autoestima, a valorização e a dignidade da pessoa.
Nos princípios de atuação a autodeterminação, os direitos, a privacidade são fatores que têm de ser tidos em conta na avaliação e em toda a intervenção a realizar. Sendo igualmente princípios da resposta de residência assistida, a manutenção da autonomia, a participação e a valorização dos residentes, num modelo integrativo, participado e valorativo de todas as pessoas que integram a resposta. Deste modo e sendo uma resposta dirigida a pessoas autónomas e independentes, tem na base da sua estratégia de intervenção, fomentar e potenciar a participação dos residentes na tomada de decisão, tornando-se assim num fator potenciador da própria resposta social, onde a partilha e a adequação de quem usufrui e necessita dos serviços, acresce valor à prestação do serviço.
Este modelo participado, permite que a residência seja vista como um espaço de todos, de responsabilidade coletiva e relações de convivência que criam bem-estar. Podendo deste modo, potenciar a criação de uma comunidade de solidariedade onde o bem-estar coletivo se reflete no bem-estar individual.
Ao potenciar a resposta de residência assistida através de um modelo participado com os residentes, onde as normas e regras existentes são discutidas e colocadas em debate, pretende-se que os residentes tenham um papel ativo na resposta com valorização pela pessoa, criando capital pessoal e social, sendo um fator potenciador que reflete na forma como os residentes continuam a realizar e a vivenciar as suas relações na comunidade e a desempenhar a sua cidadania, dando continuidade ou formulando o seu projeto de vida.
Esta resposta permite que a pessoa viva a sua vida de forma livre, vendo a sua privacidade, vontade, autodeterminação, poder, decisão, valor social e utilidade respeitados e valorizados. Com base num modelo de gestão integrativo e participado contruído com as pessoas que vivem na resposta social, fomenta-se assim “a possibilidade de criação de capital social, através da valorização social e cultural, com o aumento da utilidade social a validação de saberes e vivências. A participação nas redes de sociabilidade, promove o aumento da autoestima … contribuindo para um bem-estar generalizado” (Elvas, 2016:81)
Para terminar, é importante realçar que esta estratégia de intervenção na resposta social é possível criar dinâmicas diferentes das convencionais e burocratizadas, assim como permite contribuir para a alteração da perceção da própria pessoa idosa sobre o seu envelhecimento, contribuindo igualmente para uma desmistificação dos estereótipos aleados ao envelhecimento.
Bibliografia
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